A utilização de telemetria cardíaca no ambiente hospitalar tornou-se comum na medicina americana na década de 1960 Desde então, várias diretrizes foram estabelecidas para orientar o uso apropriado da telemetria, com o objetivo de garantir a segurança dos pacientes e a eficiência operacional dos hospitais.
Diretrizes da American College of Cardiology (ACC)
A American College of Cardiology (ACC) publicou, pela primeira vez, diretrizes baseadas em evidências para o uso da telemetria em 1991 Essas diretrizes são consideradas uma fonte fundamental para orientar a utilização adequada da telemetria. Elas fornecem critérios claros para identificar os pacientes que se beneficiariam do monitoramento cardíaco contínuo.
Diretrizes da American Heart Association (AHA)
Além das diretrizes da ACC, a American Heart Association (AHA) também publicou suas próprias diretrizes para o monitoramento cardíaco contínuo em 2004 Essas diretrizes complementam as recomendações da ACC e oferecem uma visão abrangente sobre o uso apropriado da telemetria.
Uso Excessivo de Telemetria
Apesar da existência dessas diretrizes, o uso excessivo de telemetria ainda é prevalente no ambiente hospitalar, especialmente em unidades médico-cirúrgicas gerais, onde o monitoramento cardíaco contínuo não é comumente adotado como padrão de cuidado Vários fatores contribuem para esse uso excessivo, incluindo a falta de compreensão dos profissionais de saúde sobre os diferentes níveis de cuidado e os padrões associados, a preferência dos médicos por concentrar os pacientes em unidades específicas e a falta de conscientização sobre os recursos limitados de telemetria.
Consequências do Uso Excessivo
O uso excessivo de telemetria pode ter várias consequências negativas para os pacientes e para a eficiência operacional dos hospitais. Uma das principais preocupações é a fadiga de alarmes, que ocorre quando os profissionais de saúde são expostos a um grande número de alarmes de telemetria, muitos dos quais são falsos positivos. Isso pode levar à desensibilização dos profissionais de saúde aos alarmes verdadeiramente críticos, colocando em risco a segurança dos pacientes.
Além disso, o uso excessivo de telemetria pode levar à transferência desnecessária de pacientes para diferentes níveis de cuidado ou unidades, resultando em atrasos no atendimento e aumento da carga de trabalho para a equipe de enfermagem. Isso também pode levar ao desperdício de recursos financeiros, como equipamentos de telemetria, cabos e recursos humanos necessários para monitorar os pacientes.
Projeto de Melhoria da Qualidade
Com o objetivo de alinhar o processo de solicitação de telemetria com as indicações da ACC, um projeto de melhoria da qualidade foi implementado. Esse projeto envolveu a criação de uma ordem específica para a solicitação de telemetria no prontuário eletrônico do paciente. A ordem de telemetria agora requer que os médicos selecionem uma indicação baseada nas diretrizes da ACC. Além disso, a ordem de telemetria expira automaticamente em 48 horas, a menos que seja renovada. Essas mudanças visam garantir que a telemetria seja utilizada apenas quando clinicamente indicada e que seja descontinuada quando não mais necessária.
Resultados
Desde a implementação dessas mudanças, o hospital observou uma redução significativa no número de horas de telemetria utilizadas mensalmente. Em outubro de 2019, o número de horas de telemetria foi reduzido em 72% em comparação com julho de 2018 Essa redução foi alcançada sem comprometer a segurança dos pacientes, e nenhum evento adverso relacionado ao projeto foi registrado.
Além disso, o projeto permitiu uma melhor gestão da capacidade hospitalar, reduzindo a necessidade de áreas de atendimento temporário e maximizando o uso de leitos disponíveis. Isso resultou em uma melhoria significativa na eficiência operacional do hospital.
Considerações Finais
A implementação de um projeto de melhoria da qualidade para o uso adequado da telemetria cardíaca demonstrou ser eficaz na redução do uso excessivo desse recurso. Através da adoção de diretrizes baseadas em evidências e da conscientização dos profissionais de saúde, foi possível melhorar a segurança dos pacientes, otimizar a capacidade hospitalar e reduzir os custos associados ao uso desnecessário de telemetria.
No entanto, é importante ressaltar que cada hospital deve avaliar suas próprias necessidades e recursos antes de implementar mudanças semelhantes. O sucesso desse projeto depende da colaboração entre médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, bem como do comprometimento da liderança hospitalar em promover uma cultura de uso apropriado da telemetria.
Em resumo, a utilização adequada da telemetria cardíaca é essencial para garantir a segurança dos pacientes e a eficiência operacional dos hospitais. A implementação de diretrizes baseadas em evidências e a conscientização dos profissionais de saúde são passos importantes para reduzir o uso excessivo desse recurso e melhorar a qualidade do atendimento.